Como romântico assumido e autor de tão belas declarações, Vinícius de Moraes consagrou e definiu o amor em sua maior contradição: a eternidade do amor é condicionada ao tempo de sua duração. Mas, se infinito é o que não tem fim, como pode ser também uma chama que se apaga?
Do ponto de vista essencialmente romântico – do qual eu não sou muito adepta –, o amor é mesmo eterno. Para quem ama, a intensidade do seu amor é tão grande que é impossível admitir que este vá acabar um dia. Quer-se absorver o máximo da pessoa amada, viver em função dela, dormir e acordar com o único pensamento de fazer o outro feliz, amar e ser amado... “para sempre”. É assim que os contos de fada terminam, e é assim que muitas vezes nós queremos que eles permaneçam: eternos, imortais, infinitos.
Mas ninguém se pergunta o que acontece depois desse “final” da história. Especialmente porque até essa parte não há nada além de uma paixão inicial, imposta magicamente. E o que há depois do “felizes para sempre”? Para quem tem experiência na área – e é nessa porção que eu me encaixo –, é mais fácil admitir que até mesmo as maiores paixões e história de amor um dia perder a mágica, acabam.
Alguns pesquisadores dizem que há vários tipos de amor: o amor erótico, baseado na atração sexual; o amor lúdico, que sobrevive de brincadeiras e da falta de comprometimento (por que, como Freud explica e esses dois casos exemplificam bem, amar também significa ter libido e prazer, não é?!); o amor pragmático, baseado na satisfação dos interesses; o amor maníaco, que sobrevive da instabilidade de crises de ciúme (pois é, namorados(as) sinistros(as), vocês também têm espaço aqui); o amor estórgico e agápico, que tem maiores níveis de intimidade e doação; e tantos outros amores que eu poderia citar. Cada um se baseia na satisfação de alguma carência, e depende dela para sobreviver.
Se levarmos em consideração todos os tipos de amor, perceberemos que a frase de Vinícius se aplica melhor a uns do que a outros. É claro que, num amor erótico, quando o sexo deixar de ser prazeroso e constante, o amor acabará. E o mesmo ocorre quando um dos envolvidos num amor lúdico começa a mandar mensagens todo dia, exigindo maior comprometimento. Mas, ao mesmo tempo em que falamos do fim eminente, a eternidade do amor fica evidente em amores com mais doação, já que, para ser completo, o amor verdadeiro exige paixão, intimidade e comprometimento, e isso implica em paciência e uma série de adaptações às manias e à personalidade do outro.
Amar é prazeroso, mas é difícil. E se baseia em satisfação, tanto do outro quanto de si mesmo. Sei que há quem diga que isso nem pode ser considerado amor, mas o que ninguém gosta de admitir é que o amor (sim, o Amor de verdade) é mesmo uma necessidade, e, como qualquer outra, pode acabar. Uma hora ou outra, o interesse dos dois deixará de ser o mesmo, aparecerão novos motivos ou necessidades, e aí é difícil segurar a barra e manter a chama acesa.
Mas caso você seja um daqueles românticos incorrigíveis, não desacredite: o amor acaba, sim... mas é possível se apaixonar e amar a mesma pessoa, por infinitas vezes, de diferentes formas. Pois, ainda que acabe, posto que é chama, o amor tem a incrível virtude de se reinventar, e, enquanto dura, tem aquela magia gostosa que só o que é imortal pode ter.