- Você vai lembrar de mim quando estiver lá?
     Ela explicou que ainda faltava alguns meses para a viagem, e que não ficaria muitos dias fora. - Não é como se eu fosse embora pra sempre.
     - Eu sei... - ele fechou os olhos - mas você vai estar longe; e eu sei o quanto essa viagem vai ser importante pra você. Eu quero que você lembre de mim, como se eu estivesse lá também.
     Ela sorriu e passou a mão pelo cabelo dele. - Mas não posso lembrar de você lá, vai me atrapalhar.
     Ele tentou fingir ultraje, mas tudo o que conseguiu foi arrancar dela mais um sorriso. Beijou de leve sua mão direita, e subiu com seus beijos por toda a extensão do seu braço, até chegar ao pescoço. O corpo dela arrepiou involuntariamente, e ele sorriu ao perceber isso, aproximando seus lábios do ouvido dela para sussurar: - Você vai lembrar de mim... quando estiver conversando com outras pessoas e se sentir nervosa; vai lembrar de todos esses efeitos que eu causo em você.
     Ela se encolheu no banco do carro e sorri sem querer: Não posso, não quero lembrar de você.
     Ele olhou magoado.
     - E arranjarei maneiras de te esquecer. Você sabe que eu consigo se eu quiser.
     - Eu sei. Mas você não quer. E, quando estiver com outra pessoa, apenas para não lembrar de mim, aí sim minha lembrança estará mais presente.
     Ela cruzou os braços e se afastou dele, dizendo o quanto o achava convencido. Mas ele passou os braços por sua cintura e a aproximou: Não se afaste de mim. Nunca. Não importa o que aconteça, não se afaste de mim.
     Ela sorriu de forma triste: Eu não vou estar aqui pra sempre, você sabe disso. - respondeu sem vontade, evitando encará-lo.
     - Mas eu vou estar aqui pra sempre, por você. E não vou deixar que você esqueça de mim. E não vou me permitir te esquecer também. Preciso disso.
     - Você é absurdo. Não posso entender... - ela tentou dizer algo, mas ele a silenciou com um beijo, que foi se tornando mais intenso a medida em que percebiam a saudade que sentiam um do outro.

     Quem passou por aquela rua algumas horas mais tarde, naquela madrugada chuvosa, percebeu apenas os vidros embaçados - e deve ter atribuído isso à neblina, que dificultava a visão. Mas, se reparasse bem, veria as marcas de dedos nos vidros, onde ela brincou de desenhar corações. E, ao olhar por essa parte limpa da janela, veria, dentro do carro, um casal dormindo, aconchegados naquele espaço tão pequeno, como se fossem um só... os corpos tão unidos que chegavam a se confundir na escuridão da noite.
     Ele mantinha as mãos na cintura dela, e ela, ainda com os olhos abertos, o observava dormir, torcendo para que ele não acordasse e a visse ali, o encarando com lágrimas presas nos olhos.
     - Não quero me lembrar de você pra sempre, meu amor. Mas você não imagina o quanto dói pensar em te dizer adeus. - ela sussurrou. Então encostou seus lábios nos dele, e fechou os olhos.
     Não sei por quanto tempo ficaram ali, entregues naquele momento... mas, antes que o sol nascesse e roubasse o brilho daquele momento tão simples e tão mágico, ele acordou. Passou a mão pelo rosto dela, como se quisesse decorar cada detalhe, e a encarou por longos minutos.
     - Eu sei que te faço sofrer, minha menina. Mas não faço por mal. Eu amo tanto você, e dói ter que admitir isso; porque você sabe, melhor do que eu, que não podemos ficar juntos agora. Mas eu espero realmente que você não esqueça de mim, porque um dia sei que vou te fazer muito feliz.
     - hm? ela abriu os olhos, sonolenta... - Você disse alguma coisa?
     Ele sorriu seu graça: Já está quase amanhecendo, acho melhor irmos embora...
     Ela pareceu frustrada com a resposta, mas sabia que também já havia travado conversas das quais só ela se lembrava, então apenas balançou a cabeça e sorriu.
     Se ajeitaram dentro do carro, e ele a levou para casa. Se despediram com um beijo e ele pediu para que ela se cuidasse. Ela sorriu sem graça e disse o mesmo para ele, saindo do carro sem olhar para trás.
     Ao entrar em casa e fechar a porta, permitiu que todas aquelas lágrimas acumuladas se exteriorizassem. Deitou na cama e abraçou o ursinho que havia ganhado dele a quase 4 anos atrás.. e um turbilhão de lembranças lhe passou pela cabeça, fazendo com que seu coração parecesse apertado dentro do peito. Até pensou em ligar para ele, dizer que ouviu tudo o que ele disse enquanto ela fingia dormir, dizer que também o amava e que esperaria o que fosse preciso... mas achou melhor fechar os olhos e se render ao sono que chegava... enfim permitindo-se ser feliz ao lado dele: somente naquele momento, em sonho.
     Eles sempre seriam o casal mais bonito e complicado de que tinham notícia. E, para mim, não será nenhum sacrifício continuar contando suas histórias. Um dia elas se cruzam e eles enfim serão felizes... juntos.
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