Fique só até amanhã...


Fique. Não me dê desculpas, não faça promessas.
Fique só por hoje, sem adiar.
Já chega dessa história de arrumar pretextos, de ser difícil,
de [mesmo sem querer] tentar se afastar.
Apenas fique.
Amanhã cedo a gente resolve os detalhes.
Quando eu acordar, olhando pra você, a gente conversa
e aí decide se é isso mesmo que a gente quer.
Mas fique só por hoje,
não adia o querer por medo ou outra desculpa qualquer.

Porque o que importa é o agora. E só.
É bobeira achar que agora não dá,
que é preciso esperar outros sóis...
Não precisa arrumar a casa, eu não ocupo muito espaço
e me acostumo à sua bagunça.
Hoje eu só preciso de um cantinho debaixo dos seus lençóis.

Fique.
Sem desculpas, sem promessas,
e o resto a gente resolve ao acordar.
As justificativas podem nos esperar dormir.
Porque eu te quero agora,
e só por agora não vou ficar esperando o tempo passar.
Mas quando amanhecer, se você quiser, pode ir.

Ande por onde você precisar andar.
E sonhe o que você precisar sonhar.
E mande notícias de vez em quando
pra eu pelo menos saber que você está bem,
pra eu saber que você está pensando em mim
ainda que esteja ficando em outro lugar.
Pode ficar.

Só não me deixe morrer de saudades,
só não me deixe viver de vontades.

Pode rodar o mundo que eu vou voar também...
E no fim, pode voltar.
E pode ficar, e se estabelecer.
Se não, quando um outro dia amanhecer,
espero que a gente se encontre e admita
que tudo o que faltava
era a gente ter decidido se encontrar
e assim permanecer.

Vez ou outra, é amor.

Eu não valho nada, você sabe. Nem vou tentar mentir pra você. Você sabe que a saudade sobre a qual eu escrevo nem sempre é a saudade que eu sinto de você. Mas se eu te falar, olhando nos seus olhos, que estava com saudade, é porque realmente estava. E pelo menos nesse momento é saudade de você, só de você. No restante do tempo, sabemos que meu coração é bem grande e tem muito espaço para amar... Por isso vez ou outra tem espaço para vários abraços e vários sorrisos. Não me leve a mal. Eu tenho uma boa memória e consigo me lembrar de tudo, tudo. Eu sou assim, e acho que sempre fui, mesmo quando fingia não ser.
O que eu posso fazer? Essas cartas que eu escrevo são para você, mas também enviei cartas para outros, e também lhes falei de amor. O amor é sempre bonito. Mas nem por isso meu amor vale menos do que antes. Porque isso não quer dizer que eu não amo você. Eu só... acho que fiz uma bagunça muito grande, e no meio de tudo isso eu coloquei você. E nem me atrevo a me desculpar.
Eu não valho nada, você sabe e sempre soube. Mas prometo que não vou mentir pra você. Mesmo que não seja sempre sobre você, e que meu coração esteja sempre voando por aí. Eu te chamo pra voar comigo... sei que teremos um voo lindo. Mas me deixe pousar vez ou outra, me deixe conhecer novas paisagens, novas pessoas, novos sorrisos. Prometo que vou levar sempre o teu olhar, prometo que ele vai se destacar entre tantos outros.
Eu não vou mentir pra você. Seja especial, seja você. E não seja meu. Mas também não se distancie. Me dê um pouco de você, e eu prometo te dar cada vez mais de mim. Vê se não fica sem mandar notícias, vê se não foge de mim.
Sei que não é sempre sobre você. Mas eu não vou mentir quando te falar de amor e de toda a saudade que, vez ou outra, eu sinto de você.

Algumas partes de você.

“Me deu saudade, só isso. De repente, me deu tanta saudade...” – Caio Fernando Abreu

Saudade é uma coisa estranha. Você foi embora, tirada de mim por alguém que sequer a conhecia. Tirada de mim sem nem poder dizer que não queria. Suas últimas palavras foram um choro de dor. Minhas últimas palavras para você, também. E você já nem podia ouvi-las. Você ainda não pode me ouvir, mas mesmo assim eu choro. Existem milhões de possibilidades e de coisas que você poderia estar fazendo, mas você não esta. Você só estava no lugar errado, e eles também. Eles nem te perguntaram se você não poderia ser a pessoa errada. E você era.

Eu ganhei muitas coisas que eram suas. Coisas que você sempre dizia, em vida, que só seriam minhas depois que você morresse. Eu não achei que você falava tão sério. E hoje eu olho para suas coisas e sinto saudade. Fico abrindo e fechando as portas dos móveis, esperando você entrar no quarto, gritando para que eu não bagunce [mais] as coisas. Ou então esperando que você apareça na cozinha, enquanto eu tempero a carne, segurando uma panelinha velha cheia de legumes nada apetitosos e insistindo para que eu coma com você. Se fosse pra te ter de volta, até salada eu comeria.
Eu ganhei sua camiseta com o desenho dos vegetais. Ganhei seu quarto da barbie feito em madeira. Ganhei seu porta-joias, que de joia mesmo tinha só o seu anel de formatura. Ganhei ele também.

E esses dias, andando na rua, fui parada por duas senhoras que me perguntaram se eu era sua filha. Eu mexi no meu cabelo e pensei que ele deveria estar muito bagunçado, pois esse era o único motivo para me assemelharem a você. Mas não estava. Então eu sorri e respondi que não, mas que você era tão importante quanto uma mãe para mim. Eu virei as costas e chorei, mas rápido o suficiente para ninguém ver. Não porque quero evitar a dor, mas porque sei que você, mesmo aí do céu, não ia querer me ver chorar ao ser comparada com você. Você é linda! E ser comparada com você me faz ser linda também. E me enche de alegria e orgulho. Penso que você deve estar um pouco dentro de mim.
Quando as pessoas vão embora, elas sempre deixam algumas partes de si pelo caminho.

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