2012: um ano com asas.

  Os anos de número par geralmente não são bons. Foi assim que eu expliquei para ele o quanto esse ano poderia ser frustrante. Não que todos tenham sido ruins (eu nasci em um ano par e, decididamente, foi um ano crucial na minha vida, se é que vocês me entendem), e na maioria deles eu consigo enumerar algumas boas situações. Mas, conforme eu cresci, e especialmente na adolescência, os anos de número ímpar foram extremamente melhores e mais memoráveis.
  Por algum motivo eu me sentia FELIZ. 2011 deixou ótimas lembranças e me fez querer viver mais. Talvez por ter sido um ano intenso, "louco", e no qual conheci pessoas tão incríveis, que tudo o que eu queria era que esse ritmo incrível se mantivesse na minha vida, junto com elas. Assim começou 2012: cheio de expectativas, mesmo que eu soubesse que os anos de número par geralmente não eram bons.
  E aí ele chegou, ocupou seu lugar e riu dessa "sina". E combinamos, juntos, que isso iria mudar.
  Então 2012 foi um ano de muitas mudanças e infinitos sonhos e planos. Eu li os melhores livros, descobri histórias incríveis e fui a lugares fantástico e até entrei de cabeça nesse universo "nerd". A vida amorosa mudou surpreendentemente, porque, enquanto nos anos anteriores eu corria dela, dessa vez decidi vivê-la, e, talvez por muita sorte, encontrei um cara legal. A viagem em família foi uma aventura incrível, em lugares lindos que renderam ótimas risadas, presentes e recordações. E os amigos, ah, os amigos! esses se mostraram mais companheiros do que nunca.

  Mas aí eu lembrei que nem tudo podia estar tão certo e tão bonito assim. Quer dizer, a vida nunca é tão bonita. Nós, digo, EU é que insisto em querer vê-la sempre da melhor forma. E aí esse ano mostrou que aquele esforço para ser a melhor ia ser ainda mais difícil, porque alguém sempre ia tentar me passar para trás, e eu, querendo ajudar alguns, ia me deixar ficar para trás em várias vezes.
  E, na tentativa de melhorar, vieram as tardes intermináveis de estudo, que, mesmo rendendo notas altas e até algum dinheiro, além de um grupo de estudos e da admiração de pessoas que era eu quem deveria admirar, culminaram num problema no pulso e num afastamento quase definitivo das canetas e das palavras escritas. E, quase no final do semestre, veio também a DP, conseguida por uma bobagem e porque eu sempre deixo para fazer as coisas na última hora. E eu sabia que um dia essa falta de CONTROLE DO TEMPO ainda ia me prejudicar.
  E nessas brincadeiras, nesses estudos e descobrimentos do mundo, conheci e redescobri pessoas incríveis. Alguns, de tempos atrás, mas com quem eu trocava apenas algumas palavras, se mostraram cruciais. E me ensinaram tanto! E me deram tanto conhecimento e tanta bagagem. E dividiram comigo tanta AMIZADE e tanta vida... que eu me vi na ânsia por dividir minha VIDA com eles também.
  E algumas pessoas começaram a mentir, a me enganar. E alguns amigos, que antes pareciam tão amigos, começaram a se afastar, ou a viver num mundo no qual não havia mais espaço para mim. E queriam outras coisas, ou queriam as mesmas coisas de uma forma que não me agradava e não me satisfazia mais. Alguns se afundaram em drogas, outros em baladas, relacionamentos frustrados... mas, se alguns tivessem me ouvido! Tanta coisa ia ser diferente!
E então vieram os problemas físicos; a gastrite, a dor na coluna e a cabeça que não parava de doer. Sem falar na falta de ar, que me acometia nos momentos mais impróprios. Dezenas de massagens e comprimidos para dor foram necessários.
  E então vieram mentiras, traições, enganações. As vezes, parecia que tudo o que as pessoas queriam era ROUBAR QUEM EU ERA, ROUBAR MINHA VIDA. Nem posso descrever o quanto algumas pessoas me decepcionaram. Muitas, ainda presentes e que em nenhum momento pensei em deixar para trás, pareciam alguém que eu devesse amar e cuidar. E foi isso que fiz.
  E aí, tinha o AMOR. O amor sempre parece uma rota de fuga, um oásis no deserto vazio que a vida se torna em alguns momentos. Então, mesmo trazendo um "fim definitivo" para um dos relacionamentos mais bonitos que já tive, me deu algo melhor, e maior, pra eu querer abraçar, beijar e estar perto SEMPRE. Talvez fosse, ou ainda seja, algo que deva agradecer. Porque o amor, mesmo com todas as suas implicações, traz vida. E eu acho que, naquele momento, era TUDO o que precisava.
  O problema é que a gente acha que basta estar vivo para que tudo esteja bem. E talvez alguns só precisassem ver, mesmo que para mim isso não fosse completamente verdade, que nem tudo estava tão bem quanto parecia. Mas, aparentemente, estava tudo muito equilibrado: o bom e o ruim, a ordem e o caos.

[continua]

Futuro do pretérito.

 Eu acho, sinceramente, que preciso me apaixonar. Acho, pelas minhas contas, embora eu não seja muito boa em matemática, que já fazem mais de dez(!) dias que isso não acontece. E aí você vai rir e dizer que isso é exagero. E eu vou baixar os olhos e fingir estar ofendida. E você ficará sério e perguntará se não estou brincando.
   E eu diria que não. Diria que poderia me apaixonar todos os dias, por vários dias, e todas as vezes, por várias vezes, e quem sabe às vezes, e quem sabe sempre, mas sempre muito. E você me acharia confusa e exagerada, e diria que, mesmo que eu fosse uma pessoa romântica (e você tem quase certeza de que eu estou um pouco longe disso), mesmo que eu gostasse do amor tanto quanto ele parecia gostar de mim, ainda assim não me apaixonaria tantas vezes, ou por tanto tempo.
   E eu riria e, depois de lhe oferecer um café, como faria uma boa anfitriã, eu diria que você não me conheceu o suficiente para supor coisas a meu respeito. E usaria todo o meu charme (que nem é um charme de verdade, mas eu gosto de pensar assim) para convencê-lo de que seria realmente difícil encontrar alguém que se declarasse tão ou mais apaixonada do que eu.
   Mas, em tempo, eu pediria desculpas e diria que falava sem pensar, que talvez não devesse ter tomado aquele comprimido para dor... Já citei o quanto minha cabeça dói ultimamente? E diria que assim é bem difícil organizar as ideias e ser mais coerente. E que meus ombros doem, e também o meu pescoço.
  E aproveitaria o assunto para dizer tudo o que me dói. Talvez eu acrescentasse, inventasse ou esquecesse alguma coisa, mas você já me acharia exagerada o suficiente e nem iria reparar.
   No meu futuro do pretérito, ou em qualquer dos tempos verbais, você riria de mim, mas diria o quanto me achava linda (e também convencida). E eu concluiria meus relatos falando que talvez você fosse mais feliz se não tivesse ouvido tudo aquilo. E eu colocaria a mão na cabeça e diria o quanto doía, o quando você me fazia doer, e o quanto eu gostaria de poder sentir, mas que gostaria ainda mais de poder esquecer.

Mudar e deixar você.

Escute, eu tive que mudar e deixar você
Mas você ainda é um pedaço de tudo o que eu fiz, um pedaço de mim.
Escute, o que amar significa pra você?
Eu que te quis, que te amei, que sofri por ti...

Veja, nada mais é da maneira como era antes.

Você consegue ver todas as mudanças?
Olhe, pense, sinta...
Tantas coisas hoje são só lembranças...

Perceba: ninguém mais zela pelo seu sono como eu fiz um dia

Perceba que o amor não se encontra em livros,
Que a minha lembrança não se apaga em outros corpos,
Que ninguém te fará feliz como eu pensei que faria.

Viva, sinta, ame...

Com a certeza de que alguém quer te ver feliz
E, apesar de tudo, nunca me esqueça
Guarde sempre a imagem daquela que sempre te quis.

Promessas.

Não prometa o que você não pode cumprir.
Se você não pode vê-la ou dar atenção a ela sempre, por falta de tempo, dinheiro ou um meio de locomoção, não prometa fazer isso. Não diga que vai visitá-la em todos os finais de semana, ou que ligará todos os dias.
Porque promessas geram expectativas, sonhos. E é triste tê-los quebrados.
Ela te esperou ligar, como você disse que faria. Esperou todos os dias, nem que fosse para ouvir só um pouco de silêncio. Esperou porque você disse que faria. E ficou no portão, olhando para a rua, esperando que você chegasse e lhe dissesse que aquela era a moto nova que você prometeu comprar para visitá-la. Prometa só o que você pode cumprir.
Então não prometa presentes, não prometa comprar-lhe os diálogos e as matérias perdidas, ou então um compilado de Sonhos, em edição especial e papel de presente. Não prometa lhe comprar Presença, nem Carinho, nem rapidez e nem potência. Não prometa comprar-lhe histórias, dar-lhe Sonho, Delírio, DesejoNão prometa o que você não pode cumprir.
Não prometa conversas, assuntos ou amizade. Não prometa companheirismo, confiança, amor. E não prometa cuidar dela, se você não consegue cuidar de si próprio. Sentimentos são complexos demais para que você os jure, e as vezes vão embora sem que você consiga se despedir. Da mesma forma que, a qualquer momento, ela também pode querer partir.
E aí, todas aquelas suas promessas, aquela sua jura de que iria mudar, de que iria ser diferente, vão embora com ela. E você nem sabe para onde ela pode ir. Nem sabe se conseguirá procurá-la, e nem se, quando encontrar, ela vai querer voltar junto com você. Promessas tem uma incrível capacidade de decepcionar.
Então não prometa coisas que você não pode cumprir. E não ache que, depois de tanto tempo, as coisas poderiam ser diferentes. Geralmente, só existe o caminho que se escolheu. E nunca diga "sempre", porque o tempo é um pouco traiçoeiro e as coisas tem a péssima mania de acabar antes que você possa cumprir tudo o que prometeu.

O suficiente para não se importar

Haveriam alguns motivos para brigas e discussões. Ela reclamaria de algo, ele ia achar que entendeu, mas logo faria algo errado parecido, e ela ia achar que perdoou, mas logo se veria magoada com ele de novo, e ele ia entender, até ela reclamar de algo... e aí eles se veriam cansados, sem mais nada a oferecer. E o Destino riria, e talvez achasse graça da forma como o amor torna as pessoas tão idiotas.
Então, em algum momento, ele conheceria outra pessoa, talvez até se envolvesse com ela, mas ela nunca saberia, e, se soubesse, quem sabe até o perdoaria. Mas a tempo ele perceberia que o problema era outro, embora nunca soubesse ao certo qual era o problema, mas tudo começaria a ser, de um certo modo, diferente.
Ela, devagar, aprenderia que ele tinha manias quase incorrigíveis, e que era romântico de mais até para o que a paciência dela podia aguentar. Ela, devagar, entenderia que ele não gostava de conversar quando precisava, mas que era ansioso o suficiente para falar demais nos horários em que deveria apenas calar a boca. E ele? Ah! o Destino achou suficiente que ele aprendesse a amá-la, embora as vezes ficasse confuso com isso e nunca entendesse porque ela o corrigia tanto.
Mas eles viveriam uma grande história de amor. Cheia de caminhos, detalhes, momentos apaixonados, um pouco de chuva e algumas madrugadas de amor... Pode não ser uma história de amor comprida, mas geraria tantas outras histórias que alguém poderia até se interessar por publicar em algum lugar. Nunca se sabe onde histórias de amor podem chegar.
Mas, nesse dia, o Destino estava cansado e triste, e tinha tantas outras coisas mais importantes para resolver... talvez estivesse de ressaca, e com a cabeça doendo o suficiente para não se importar. Estes não eram dias bons, e, depois de tudo o que aconteceu, ele queria apenas um tempo para si mesmo, para reconstruir algumas coisas.
Nunca se sabe onde histórias de amor podem chegar. Mas, naquele dia, o Destino estava cansado, talvez de ressaca, e resolveu não se importar com essas histórias de amor. Amanhã, talvez, se algumas nuvens sumissem do céu, eles resolvessem conversar. Mas não hoje. Hoje a cabeça do Destino doía, e ele tinha resolvido não se importar.

60 minutos para o fim

"Por quê não me beijou?"
- Porque já te beijei.
"Quando?"
- Anteontem.
"Mas anteontem faz muito tempo."
- Ta bom, ta bom. Te beijo hoje, então.
"Ah, assim? Sem nenhum romance?"
- Você disse que não gosta de romances.
"Quando?"
- Semana passada.
"Mas semana passada faz muito tempo."

In: Festival de Teatro de Campo Mourão - Fetacam. Peça: "60 minutos para o fim", da Cia.: Garagem 21 (São Paulo).

Você não pode se esquecer de voltar.


   Acho que eu não sou boa com despedidas. Fiquei pensando em um monte de coisas pra te falar, pensei até em te escrever, já que sou ligeiramente melhor com palavras escritas. No fim, só passei a mão pela sua barba, te dei um beijo e pedi desculpas por ser tão chata com despedidas.
   Pra falar a verdade, eu sou chata o tempo todo. Mas em despedidas tem um algo a mais, ou a menos, ou a suposta perda de algo, e isso me deixa ainda mais chata... ou nostálgica, sei lá. Sentimentos são meio confusos.
   O que importa é que eu vou sentir sua falta. Mas disso você já sabe. Minha chatice não esconde o quanto eu me importo com você. Aliás, até me entrega. O que importa é que eu vou sentir saudades, especialmente quando a noite chegar e eu sentir falta da sua barba no meu pescoço enquanto eu durmo assistindo TV.
   Acho que eu não sou boa com despedidas. Me recuso a dar tchau, fico pensando em um monte de coisas pra te falar. Já disse que pensei em escrever? Gosto de palavras escritas. Sinto quase como se pudesse tocá-las. Sinto como se, enquanto você as lê, elas pudessem te tocar também. Quem sabe elas te toquem. Quem sabe te batam, te mordam, te arranhem. Quem sabe acumulem tantas chatices e te digam inúmeras verdades e incontáveis bobeiras... E quem sabe te peçam para não ficar muito tempo longe de mim.
   Me recuso a me despedir. Não sou boa com despedidas. O que importa é só que vou sentir sua falta. O que importa é que aqui tem um beijo, um carinho, um arrepio que sua barba me trouxe; algumas palavras, e um pouco de romantismo barato só pra você se lembrar que tem alguém aqui e que você não pode se esquecer de voltar. Então eu vou dizer, só pra não perder o costume, que sentimentos são bem confusos. E que eu sinto sua falta. E repito isso tantas vezes só porque sou chata. Uma chata absurdamente apaixonada por você.

A dona da História - 2004

A noite perguntou ao bobo:
- Bobo, que te importa mais nessa vida além do amor dessa menina?
E o bobo respondeu: "Nada mais, noite. Só Carolina."
- E a tua luta?
"Carolina!"
- E o poder?
"Carolina!"
- E a glória?
"Carolina!"
- E um mundo mais justo?
"Carolina, Carolina, Carolina! Eu quero que o mundo se exploda se eu não tiver Carolina! Eu sou o bobo da tua noite, menina. O bobo da sua vida". 

Minhas histórias preferidas


É estranho; livros e histórias de amor nunca foram as minhas preferidas. Sempre gostei de guerras, mitologias, suspense, sangue. E é estranho porque, quando as palavras são minhas, quando saem da minha cabeça, elas sempre falam sobre amor. E histórias de amor nunca foram as minhas preferidas.

Sempre tem algo nelas que as tornam cansativas, e tão repetitivas: Sempre contam sobre o casal apaixonado que passa por inúmeras provações para conseguirem ficar juntos. Sempre contam sobre a busca por um final feliz - mesmo que às vezes este final não seja encontrado. Isso quando não são ainda mais clichês, que começam com 'era uma vez' e acabam com 'felizes para sempre'.

Histórias de amor são extremamente cansativas. E isso ocorre porque o amor cansa. Nunca vi um sentimento tão patético e cansativo quanto o amor. E talvez por isso minhas histórias sejam sempre sobre esse sentimento. E talvez por isso minhas histórias sejam sempre tão cansativas e patéticas. Mas acho que esse é o principal motivo pelo qual eu ainda as escrevo: Preciso de um pouco de pateticidade nessa vida tão corrida. Vida em que os sentimentos patéticos perdem espaço e dão lugar a sentimentos aparentemente menos patéticos, mas ainda assim cansativos.
Um dia quis escrever um livro, e hoje percebo que mal consigo preencher esta pagina. Porque falar sobre amor é tão cansativo, e histórias de amor nunca foram as minhas preferidas.

Por falar nisso, preciso ir. Acabo de receber uma mensagem, acompanhada por um sorriso bobo e uma vontade de amar um pouco mais - só mais um pouco, por mais 5 minutos talvez.
Vou, e viverei minhas histórias de amor, para que possa escrevê-las - ou inventá-las. Vou, porque histórias de amor são patéticas, nunca foram as minhas preferidas... mas com certeza serão sempre as mais bonitas.

Afinidade e Completude

- Eu sempre procurei metades, procurei pessoas diferentes de mim achando que iria me completar, e tudo o que consegui foram alguns vazios no meu peito. Então não acho que precise me completar. Eu prefiro alguém parecido comigo, prefiro ter afinidade.
    Ao ouvir isso, ela me beijou com calma - como fazia na maioria das vezes nas quais não concordava com o que eu dizia. Eu podia ficar em silêncio sempre... se isso significasse que ela me beijaria daquela forma. Então ela me olhou nos olhos, sorriu enquanto passava a mão pela lateral da minha barba e disse: Talvez você ainda tenha que aprender algumas coisas sobre isso.
- Sobre afinidade?
- Também. Mas especialmente sobre completude. Quando eu falo sobre completar, não acho que você precise de alguém que lhe dê algo, mas de alguém que lhe permita ser melhor, de alguém que lhe dê algo que você já tem - mas não sabia. As pessoas já são completas, mas talvez você só precise de alguém diferente de você para perceber isso. E não é uma doação. É uma troca. Ainda mais se a essência é a mesma. Nós não somos e nem precisamos ser opostos; mas podemos ser metades. É como encontrar a tampa da sua panela: ela será diferente de você (em formato e utilidade), mas é feita do mesmo material. E se encaixam.
     Eu a olhava sem piscar, admirando seus olhos brilhando enquanto defendia algo em que acreditava. E cheguei a achar que ela dizia aquilo mais para ela do que para mim.
- Quando alguém te completa, significa que entre vocês existe uma troca que os leva a se descobrir e a ser o melhor que podem ser - juntos. Isso é completude. E vai além da afinidade, porque parte dela... mas faz com que você se sinta e seja melhor, e seja verdadeiramente completo.
     Às vezes eu não compreendia como ela podia saber daquelas coisas. Ela parecia tão pequena e frágil, e ainda era nova, então era incrível que ainda assim ela pudesse me ensinar tantas coisas.
     De repente ela pareceu se dar conta de que estava me dizendo tudo aquilo, em voz alta e indo além de simples pensamentos. Então ela se calou e sorriu. Ela ficava linda quando sorria, e eu não pude evitar beijar seu rosto, suas covinhas... podia beijá-la inteira. Mas segurei seu rosto, sorri com ela, e tive certeza de que ela e Mario Quintana tinham razão: "As pessoas não se precisam, elas se completam... e não por serem metades, mas por serem pessoas inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida". E agora, mais do que nunca, eu decidi que queria dividir minha vida e me completar com a vida dela.

Personagens da própria história

   Só sei que sinto falta de algo que nunca vivi, mas viverei - ou escreverei. E será como se tivesse vivido.
   As palavras têm o poder de criar tanta coisa, e podem trazer uma beleza inexistente para qualquer história. Eu te criei com palavras, mas, enquanto escrevia, coloquei sentimentos tão reais que você acabou se tornando real para mim também.
   Talvez todos os escritores já tenham se apaixonado por algum de seus personagens. Mas meu personagem tem vida. Tanta vida que a dividiu comigo para que eu pudesse escrever sobre ele. Talvez ele até exista.
   Por vezes me sinto um personagem também. Por todas as vezes nas quais ele brinca, me enrola, e me faz achar que na verdade é ele quem segura a caneta e escreve essa HISTÓRIA.
A história de uma vida; das nossas vidas. A nossa história.
   No papel, diferente da vida real, o tempo não corre. Presente, passado e futuro se misturam, porque são palavras; e palavras se ordenam de acordo com a mão do escritor.
   E, diferente da vida real, qualquer detalhe pode ser modificado. Tudo e nada são importantes, porque as palavras precisam estar juntas para fazer sentido. É assim na vida também: algumas coisas precisam estar juntas para fazerem sentido. É assim com nós dois. Justos temos sentido, mas se estivéssemos separados, eu nem poderia escrever essa história.
   Mas nossa história, nas minhas mãos doloridas por escrever, tem a forma que eu resolvi lhe dar. Trechos podem ser apagados, inventados ou reescritos. A história ganha vida, porque nossas vidas - juntas - ganham significado.

O preço a se pagar por aprender

As unhas pareciam nunca mais crescer, e os olhos pareciam mais cansados - mesmo que, em alguns dias, isso fosse quase imperceptível. Será esse o preço a se pagar por aprender? Ela não chamava de envelhecimento - embora sempre dissesse, entre risos, que estava mesmo ficando velha. Para ela, era só uma viagem, e ela já havia feito outras viagens antes e sabia como tinha que ser. Agora se sentia na maior de todas elas: o mundo real.
O que lhe preocupava não era a vida, e muito menos a morte. Era a realidade. Isso lhe dava um medo imenso. E uma ansiedade ainda maior por viver. Ela sempre quis poder sentir, absorver o máximo possível de experiências e sensações.
Vezenquando sentia ainda arder suas costas [no lugar onde estiveram suas asas], "E AS VEZES, QUANDO SONHAVA, ELA SE LEMBRAVA DE COMO VOAR" (Sandman). Sorria, saudosa, e pensava que, apesar de tudo, estava feliz ali. Não podia ter escolhido um caminho melhor, embora as asas ainda fizessem falta. Ela sabia que elas sempre fariam parte dela, e que ela inteira fazia parte dessa realidade agora - mesmo que as vezes tudo se parecesse como um sonho.

[CONTINUA]

As cores

   Uma pirâmide cinza numa espécie de fortaleza parece se erguer. Os olhos, bem delineados em preto, evidenciam a íris cor-de-mel. A pele clara, dentes brancos e os lábios levemente rosados escondem um sorriso sem graça... A lapiseira, roxa, dança sobre o papel escrevendo uma infinidade colorida de mundos e sonhos. Em horas como essa é uma pena não saber desenhar... Ao olhar para a imensidão azul escura do céu e contar os inúmeros pontos dourados de luz, volta-me o sorriso amarelo e a imagem daquela triste pirâmide cinza - uma espécie de fortaleza sem vida, erguida dentro de um vermelho e partido coração. E, perdida em pensamentos, ao tentar pintar toda uma vida, por fim percebo o quanto me distraí.    Nunca soube desenhar, nem acho que eu saiba de fato escrever, mas o que sempre me frustra - seja colorindo gravuras ou rabiscando palavras, é que eu nunca soube qual a cor e a dimensão de uma lágrima.

Sonhei com você.

Ela suspirou: ai, como eu queria um cigarro.
Ele olhou triste: você tinha dito que ia parar de fumar.
- E eu vou. Eu só queria ter algo nas mãos agora.
- Você tem.
- Eu?
Ele baixou o olhar: Eu.
Ela sorriu triste mas não respondeu, embora seu pensamento fosse apenas um: mesmo que ela nunca fosse admitir, ela queria muito que ele fosse seu novo vício.
-
     Sonhei com você e passei o dia todo pensando a respeito. Quis te ligar, pedir pra que viesse me fazer sorrir. Queria o seu abraço... Mas não. Desliguei o telefone antes mesmo de ouvir o sinal. Não quis dar o braço a torcer. Vou dormir sozinha, mas vou dormir. Nem me atrevo a te esperar.
     Dormi pensando em você. Acordei apalpando um vazio ao meu lado na cama.
     Peguei uma xícara de café e saí para fumar. Ocupei as duas mãos, mas ainda queria ter a sua mão pra segurar. E ainda fico pensando que ter um cigarro nas mãos é menos prejudicial do que ter aqui um coração. A gente nunca sabe o que fazer com um coração dado.
     Lembrei do seu jeito de me olhar, como se quisesse ver através de mim, mesmo que eu não consiga enxergar nada de você. Me senti triste, mas pelo menos algumas boas lembranças me fizeram companhia.
     Conclui, em meio a pensamentos confusos e tristes, que a minha tristeza é você, especialmente agora que nós dois sabemos que existia sentimentos de mais em jogo.
     E agora vou ficar aqui tentando me manter longe, procurando motivos pra me decepcionar ainda mais. Mas fico sempre pensando em você. E gosto de você, mesmo que seja a última coisa que eu queira fazer.
     Acordo dos meus pensamentos ao ler uma mensagem sua, e não posso evitar mais um sorriso triste ao ler suas palavras: "Sonhei com você".

É.. eu gosto de você

Posso dizer o que sinto agora? Não sei nada sobre o futuro mas.. sobre o que eu sinto, só posso dizer que não é mentira. Eu nem conhecia esse sentimento, e você me trouxe isso de volta pela primeira vez; mesmo que eu fique tentando me convencer de que a pessoa certa não é você. Mas agora, lembrando do seu sorriso, e do pouco tempo que passamos juntos, e que ainda assim foi tão incrível e preciso; talvez eu comece a aceitar que é com você que eu quero ficar. Você trouxe algo novo pra minha vida, algo inexplicável. Não sei nada sobre o futuro, mas ainda assim queria apostar. A gente não pode saber se vai dar certo se a gente não tentar... E eu não estou nessa pra ganhar, eu estou nessa por você! 
Talvez eu esteja perdendo o medo de sofrer; Talvez fosse legal se a gente arriscasse; Talvez eu goste de você, quem sabe... E você sabe que talvez isso não dê certo, e esse sentimento pode durar só um pouco, mas sabemos que vai durar o suficiente pra ser inesquecível. Porque, se você segurar minha mão, me beijar e pedir com cuidado, eu entro nessa por você, te dou meu coração. E perco meu medo se com isso te fizer feliz. Mas você tem que segurar minha mão, porque eu preciso saber se isso tudo vai valer a pena, porque eu quero muito que isso dê certo, porque... eu realmente gosto de você ♥

As palavras certas.


Ela já havia escolhido as palavras certas antes mesmo de falar com ele. Como sempre, foi um tanto quanto sutil ao mandar-lhe uma mensagem desejando apenas um bom dia. Ela sabia que ele iria retornar. Ele sempre retornava, como se estivesse apenas esperando por um sinal de que ele ainda era bem-vindo.
E ele sempre seria, e sabia disso, mas queria que ela demonstrasse, queria se sentir querido na mesma intensidade que ele a queria. Vez por outra ele até pensava em ligar, mas sempre esperava para que ao menos ela lhe desse um sinal de que estava tudo bem, de que já era hora dele voltar.

Dessa vez não foi diferente. Eles marcaram de se encontrar. Ela já havia escolhido as palavras, mas pensou se deveria prosseguir. Então se aproximou lentamente do carro dele, medindo internamente cada uma das palavras que pensou em dizer. Quando estava prestes a dar a volta e desistir de tudo, ele abriu a porta e a recebeu com um sorriso sem graça. Ela riu de volta, entrou no carro, e sentiu todo o silêncio que pairava sobre eles. Ele acelerou, e, antes que ela pudesse dizer alguma coisa, já estavam a caminho daquele velho motel, no mesmo quarto que tantas vezes lhes havia tirado o sono, ou os deixado cansados a ponto de fazer-lhes implorar por uma noite bem dormida.

Ao chegar lá, as coisas aconteceram como sempre foram: diretas, e intensas. Ele beijou o corpo dela, e ela se arrepiou com sua boca e mãos. Ele era rápido, sabia de cor cada ponto, cada parte do corpo dela que a faria se desmanchar. Não trocaram uma só palavra, mas os olhos permaneceram conectados por todo o tempo. As vezes as bocas também se uniam, mas eram separadas por gemidos que eles não conseguiam controlar.
Ela limpou uma lágrima que teimou em escorrer pelo canto do olho. Ele riu e lhe beijou de leve. Ele sabia que ela estava tão feliz quanto ele, por estarem ali, por estarem juntos novamente, depois de tanto tempo e de tanto orgulho. Então ele a abraçou e se deixaram levar por aquele momento, pelos poucos minutos que tinham em companhia um do outro.

[...]
Ele suspirou e deitou ao lado dela, abraçando sua cintura. Perguntou se ela queria beber alguma coisa. Ela não quis. Ele perguntou se ela queria dormir, ela disse que não. Ele ofereceu uma banho, ela recusou. Ele perguntou o que exatamente ele queria. Ela riu, triste: só quero que você me escute.
- Eu tenho feito de conta que você não me interessa, mas nós sabemos que não é verdade. Você é o cara mais chato e mais especial que eu já conheci. Por tantas vezes eu pensei em te ligar, te escrever... mas sempre estava preocupada em não te incomodar. Não quero assustar você, como já fiz tantas vezes. Nem quero perdê-lo. Já fiz isso uma vez. Afinal, agora você tem uma vida pra seguir. E eu tenho uma vida pra organizar. Hoje eu resolvi que era hora de dizer o que sinto. Eu quero que você seja muito feliz, e que encontre alguém que possa amar e que possa cuidar de você, como um dia você cuidou de mim. Mas eu não acho que a gente pode viver desse jeito pra sempre. Por isso eu te liguei hoje, e por isso eu vim aqui. Eu precisava que você soubesse o quanto você ainda é importante, e o quanto eu ainda gosto de você, e quero que você saiba que eu também sei que isso não daria certo. Mas eu só queria que você soubesse que é amado, e que eu estarei sempre me preocupando e querendo seu bem. Se um dia nós pudermos ser felizes, talvéz a gente possa recomeçar de onde paramos. Por enquanto, podemos seguir nossas vidas, e deixar essa parte parada por aqui.
Então ela lhe deu um beijo, como que para selar um acordo, vestiu suas roupas e ele a levou em casa, sem pronunciar uma única palavra. Talvéz não fosse necessário, talvéz ele não soubesse o que responder. Mas aquelas palavras ecoaram em sua mente, e ela chegou em casa sentindo-se mais leve do que nunca.

Algo que eu não saiba definir.


Pouco tempo, vários momentos, e até alguns sonhos.
E tanto sorriso, tanto beijo, tanto luar...
O calor dos seus braços, seu sorriso enquanto canta,
e a maneira como me encanta ao me encarar.
Eu quero que você me cale, me abrace, me envolva,
Pode até tomar meu coração
(sem que eu espere que você me devolva).
E nem precisa ficar inseguro as vezes,
achando que não quero você.
Sei que não é suficiente, mas
cada dia aprendo mais a te querer.
Quero poder ver ser riso fácil
Seus braços ao meu redor,
e seus olhos sempre me convidando pra ficar.
Pra ficar mais um pouco - talvez até me atrasar,
só pra ficar com você.
Gosto da sua companhia, gosto de te ter,
Mesmo que seja por pouco tempo,
Mesmo que não possa ser sempre.
Mesmo que acabe de repente.
Eu só quero sentir algo que eu não sabia definir.

Venha, vamos tirar uma foto.

Ele virou a câmera na minha direção: "Venha, vamos tirar uma foto"
Automaticamente, levantei a mão numa tentativa de esconder o rosto, esquecendo que a iluminação não permitiria me ver de qualquer forma.
Ele me abraçou e tirou a foto, virando o celular para me mostrar uma mancha escura: nossa foto na escuridão da noite.
"O que você está fazendo?" perguntei enquanto ele mexia em algo no celular.
"Colocando nossa foto como proteção de tela"
"Mas é apenas uma tela preta"
"Mas eu vou saber que é você. E sempre será você"
Então ele me beijou e eu percebi que aquela foto, que não mostrava nossos rostos, era perfeita para definir nós dois. As pessoas não entenderiam e nem saberiam do que se tratava aquela escuridão, mas nós dois saberíamos que ali, como em tantas outras madrugadas, estava todo o nosso sentimento. Porque nós seríamos sempre assim, como pontos desfocados na madrugada escura. Era nosso melhor ângulo.
Ele não é meu. E eu sorri ao pensar nisso. Porque ele é tão engraçado, bonito, e safado. Quem seria capaz de resistir? Eu. Embora não tenha sido sempre assim, hoje eu sei que posso resistir, e, por mais que isso seja difícil, posso não me apaixonar.
Porque resistir significa que podemos ter alguma coisa, que eu posso ficar ao lado sem parecer só mais uma idiota apaixonada por ele, que eu não preciso me preocupar com meu corpo e com meu cabelo e com meu sorriso sem graça, e posso até não vê-lo muito. Ele parece me achar linda e atraente de qualquer jeito, porque eu sempre serei a garota que consegue resistir a ele.
E, quando o vejo, não preciso resistir. Ele não é meu, mas eu posso aproveitar os momentos em que ele parece ser meu, e, depois de tudo, posso levá-lo até o portão, posso lhe dar um beijo de tchau e pedir pra que ele se cuide, e depois posso voltar pra casa, fechar a porta, tomar um banho e dormir como se ele nunca tivesse sido meu. Mas ele é tão engraçado, bonito, e safado. E eu sempre sorrio ao pensar nisso.
Eu sentia um carinho tão grande por ele, e em momentos que eu mesma escolhi pra sentir, e ainda assim ele não precisava ser meu. E eu sorri ao pensar nisso.


     - Você vai lembrar de mim quando estiver lá?
     Ela explicou que ainda faltava alguns meses para a viagem, e que não ficaria muitos dias fora. - Não é como se eu fosse embora pra sempre.
     - Eu sei... - ele fechou os olhos - mas você vai estar longe; e eu sei o quanto essa viagem vai ser importante pra você. Eu quero que você lembre de mim, como se eu estivesse lá também.
     Ela sorriu e passou a mão pelo cabelo dele. - Mas não posso lembrar de você lá, vai me atrapalhar.
     Ele tentou fingir ultraje, mas tudo o que conseguiu foi arrancar dela mais um sorriso. Beijou de leve sua mão direita, e subiu com seus beijos por toda a extensão do seu braço, até chegar ao pescoço. O corpo dela arrepiou involuntariamente, e ele sorriu ao perceber isso, aproximando seus lábios do ouvido dela para sussurar: - Você vai lembrar de mim... quando estiver conversando com outras pessoas e se sentir nervosa; vai lembrar de todos esses efeitos que eu causo em você.
     Ela se encolheu no banco do carro e sorri sem querer: Não posso, não quero lembrar de você.
     Ele olhou magoado.
     - E arranjarei maneiras de te esquecer. Você sabe que eu consigo se eu quiser.
     - Eu sei. Mas você não quer. E, quando estiver com outra pessoa, apenas para não lembrar de mim, aí sim minha lembrança estará mais presente.
     Ela cruzou os braços e se afastou dele, dizendo o quanto o achava convencido. Mas ele passou os braços por sua cintura e a aproximou: Não se afaste de mim. Nunca. Não importa o que aconteça, não se afaste de mim.
     Ela sorriu de forma triste: Eu não vou estar aqui pra sempre, você sabe disso. - respondeu sem vontade, evitando encará-lo.
     - Mas eu vou estar aqui pra sempre, por você. E não vou deixar que você esqueça de mim. E não vou me permitir te esquecer também. Preciso disso.
     - Você é absurdo. Não posso entender... - ela tentou dizer algo, mas ele a silenciou com um beijo, que foi se tornando mais intenso a medida em que percebiam a saudade que sentiam um do outro.

     Quem passou por aquela rua algumas horas mais tarde, naquela madrugada chuvosa, percebeu apenas os vidros embaçados - e deve ter atribuído isso à neblina, que dificultava a visão. Mas, se reparasse bem, veria as marcas de dedos nos vidros, onde ela brincou de desenhar corações. E, ao olhar por essa parte limpa da janela, veria, dentro do carro, um casal dormindo, aconchegados naquele espaço tão pequeno, como se fossem um só... os corpos tão unidos que chegavam a se confundir na escuridão da noite.
     Ele mantinha as mãos na cintura dela, e ela, ainda com os olhos abertos, o observava dormir, torcendo para que ele não acordasse e a visse ali, o encarando com lágrimas presas nos olhos.
     - Não quero me lembrar de você pra sempre, meu amor. Mas você não imagina o quanto dói pensar em te dizer adeus. - ela sussurrou. Então encostou seus lábios nos dele, e fechou os olhos.
     Não sei por quanto tempo ficaram ali, entregues naquele momento... mas, antes que o sol nascesse e roubasse o brilho daquele momento tão simples e tão mágico, ele acordou. Passou a mão pelo rosto dela, como se quisesse decorar cada detalhe, e a encarou por longos minutos.
     - Eu sei que te faço sofrer, minha menina. Mas não faço por mal. Eu amo tanto você, e dói ter que admitir isso; porque você sabe, melhor do que eu, que não podemos ficar juntos agora. Mas eu espero realmente que você não esqueça de mim, porque um dia sei que vou te fazer muito feliz.
     - hm? ela abriu os olhos, sonolenta... - Você disse alguma coisa?
     Ele sorriu seu graça: Já está quase amanhecendo, acho melhor irmos embora...
     Ela pareceu frustrada com a resposta, mas sabia que também já havia travado conversas das quais só ela se lembrava, então apenas balançou a cabeça e sorriu.
     Se ajeitaram dentro do carro, e ele a levou para casa. Se despediram com um beijo e ele pediu para que ela se cuidasse. Ela sorriu sem graça e disse o mesmo para ele, saindo do carro sem olhar para trás.
     Ao entrar em casa e fechar a porta, permitiu que todas aquelas lágrimas acumuladas se exteriorizassem. Deitou na cama e abraçou o ursinho que havia ganhado dele a quase 4 anos atrás.. e um turbilhão de lembranças lhe passou pela cabeça, fazendo com que seu coração parecesse apertado dentro do peito. Até pensou em ligar para ele, dizer que ouviu tudo o que ele disse enquanto ela fingia dormir, dizer que também o amava e que esperaria o que fosse preciso... mas achou melhor fechar os olhos e se render ao sono que chegava... enfim permitindo-se ser feliz ao lado dele: somente naquele momento, em sonho.
     Eles sempre seriam o casal mais bonito e complicado de que tinham notícia. E, para mim, não será nenhum sacrifício continuar contando suas histórias. Um dia elas se cruzam e eles enfim serão felizes... juntos.

Foi bom, mas não o suficiente.

Ele parou de tocar e a encarou: "O que foi, baby? Você parece triste..." Ela sorriu e balançou a cabeça, ajeitando a franja que caia nos olhos. "Nada", respondeu... mas o que realmente queria era pedir pra que ele parasse de tocar, que parasse de sorrir enquanto a admirava e que parasse de encantá-la.
"Estou triste porq não posso gostar de você" - era o que queria dizer. Mas não podia, e não devia, e não sabia se era o que devia sentir.. Então lhe deu um beijo no canto dos lábios, sorriu, e pediu para que ele continuasse a tocar, a sorrir e a encará-la. Isso não seria triste.

[...] Não que eu não tenha tentado, mas queria ter te feito feliz. E, se você agora discordar e disser que um dia foi sim feliz ao meu lado, com um sorriso triste nos lábios eu digo que não foi o suficiente. Queria ter te feito feliz, mesmo sabendo que não daria certo, pra te dar o melhor de mim e poder receber você por completo.

     Não que eu não tenha tentando... mas queria ter você deitado ao meu lado, pra te fazer sonhar, pra te fazer dormir, pra te dar amor mesmo sabendo que não seria o suficiente.
     Mas há tanto sobre o amor que eu gostaria de te explicar... Porque nada é assim tão rápido, feliz e excitante.
     Amar implica responsabilidades, dores, alegrias, e um montante de sentimentos que jamais nós humanos poderemos explicar. Porque sabemos, meu amor, que, nesse mundo, o amor nunca será suficiente.

De tantos amores... e da [im]possibilidade do amor eterno

"Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure.”
Como romântico assumido e autor de tão belas declarações, Vinícius de Moraes consagrou e definiu o amor em sua maior contradição: a eternidade do amor é condicionada ao tempo de sua duração. Mas, se infinito é o que não tem fim, como pode ser também uma chama que se apaga?
Do ponto de vista essencialmente romântico – do qual eu não sou muito adepta –, o amor é mesmo eterno. Para quem ama, a intensidade do seu amor é tão grande que é impossível admitir que este vá acabar um dia. Quer-se absorver o máximo da pessoa amada, viver em função dela, dormir e acordar com o único pensamento de fazer o outro feliz, amar e ser amado... “para sempre”. É assim que os contos de fada terminam, e é assim que muitas vezes nós queremos que eles permaneçam: eternos, imortais, infinitos.
Mas ninguém se pergunta o que acontece depois desse “final” da história. Especialmente porque até essa parte não há nada além de uma paixão inicial, imposta magicamente. E o que há depois do “felizes para sempre”? Para quem tem experiência na área – e é nessa porção que eu me encaixo –, é mais fácil admitir que até mesmo as maiores paixões e história de amor um dia perder a mágica, acabam.
Alguns pesquisadores dizem que há vários tipos de amor: o amor erótico, baseado na atração sexual; o amor lúdico, que sobrevive de brincadeiras e da falta de comprometimento (por que, como Freud explica e esses dois casos exemplificam bem, amar também significa ter libido e prazer, não é?!); o amor pragmático, baseado na satisfação dos interesses; o amor maníaco, que sobrevive da instabilidade de crises de ciúme (pois é, namorados(as) sinistros(as), vocês também têm espaço aqui); o amor estórgico e agápico, que tem maiores níveis de intimidade e doação; e tantos outros amores que eu poderia citar. Cada um se baseia na satisfação de alguma carência, e depende dela para sobreviver.
Se levarmos em consideração todos os tipos de amor, perceberemos que a frase de Vinícius se aplica melhor a uns do que a outros. É claro que, num amor erótico, quando o sexo deixar de ser prazeroso e constante, o amor acabará. E o mesmo ocorre quando um dos envolvidos num amor lúdico começa a mandar mensagens todo dia, exigindo maior comprometimento. Mas, ao mesmo tempo em que falamos do fim eminente, a eternidade do amor fica evidente em amores com mais doação, já que, para ser completo, o amor verdadeiro exige paixão, intimidade e comprometimento, e isso implica em paciência e uma série de adaptações às manias e à personalidade do outro.
Amar é prazeroso, mas é difícil. E se baseia em satisfação, tanto do outro quanto de si mesmo. Sei que há quem diga que isso nem pode ser considerado amor, mas o que ninguém gosta de admitir é que o amor (sim, o Amor de verdade) é mesmo uma necessidade, e, como qualquer outra, pode acabar. Uma hora ou outra, o interesse dos dois deixará de ser o mesmo, aparecerão novos motivos ou necessidades, e aí é difícil segurar a barra e manter a chama acesa.
Mas caso você seja um daqueles românticos incorrigíveis, não desacredite: o amor acaba, sim... mas é possível se apaixonar e amar a mesma pessoa, por infinitas vezes, de diferentes formas. Pois, ainda que acabe, posto que é chama, o amor tem a incrível virtude de se reinventar, e, enquanto dura, tem aquela magia gostosa que só o que é imortal pode ter.
Referências em:
REIS, Brendali F. QUAIS AS PRINCIPAIS TEORIAS E PROCESSOS PSICOSSOCIAIS DA INTIMIDADE INTERPESSOAL. Cap. 8, pág 160.
apud RODRIGUES, Aroldo. PSICOLOGIA SOCIAL: Estudo da Interação Humana. Editora Vozes, 2007.

Bagunça..

- Eu.. preciso.. me.. concentrar.. nisso. Por.. favor... – falei suspirando pesado ao sentir seus beijos em minhas costas.
     Ela sorriu: Eu sei meu amor... e não quero desconcentrar você... Te deixo trabalhar, é só você me deixar ficar aqui... – e continuou sua sequência de beijos, rindo todas as vezes que percebia meus pêlos arrepiarem.
     Juntei toda a força de vontade que existia dentro de mim e foquei meu olhar na tela do computador, ME ESFORÇANDO AO MÁXIMO PARA ESCREVER ALGUMA COISA QUE FIZESSE UM MÍNIMO DE SENTIDO. MAS ISSO ERA DIFÍCIL QUANDO DENTRO DE MIM NÃO EXISTIA SENTIDO ALGUM.

     Não sei no que eu estava pensando quando resolvi trabalhar ali, do lado dela. No começo foi fácil porque ela estava dormindo, e eu pude me concentrar apenas nas idéias que saiam da minha cabeça e aos poucos ganhavam vida conforme eu as digitava silenciosamente.
     Uma vez ou outra parei o que estava escrevendo para observá-la dormir. Uma de suas mãos estava na minha perna; e, quando me cansei daquela posição, tive muito trabalho para sentar de uma forma mais confortável sem me mexer demais. Ela dormia de uma forma tão linda e o que eu menos queria era acordá-la. Ajeitei o notebook em minhas pernas e continuei meu trabalho enquanto a madrugada avançava lentamente.
     Não tinha escrito muita coisa quando percebi que ela abriu os olhos. A encarei por alguns segundos e sorri.
- Por que não dormiu ainda? – ela perguntou, ao passar suas mãos pela minha cintura.
- Precisava digitar algumas coisas... – me limitei a responder.
- Você está escrevendo pra mim? Eu gosto tanto de ler o que você escreve, mas faz tempo que não leio algo que você escreveu pra mim. – Ela me olhava de um jeito tão carinhoso e tão profundo, que ÀS VEZES EU SENTIA MEDO DE QUE ELA PUDESSE VER ATRAVÉS DO MEU CORPO. EU NÃO QUERIA QUE ELA SOUBESSE DA BAGUNÇA QUE EXISTE DENTRO DE MIM.
     Então eu sorri: Quando ficar pronto, te deixo ler. Mas ainda não terminei.
- Queria que você ficasse comigo... – ela falou emburrada, fitando o teto.
     Passei a mão carinhosamente em seu rosto: Eu estou com você.
     Ela se levantou e me beijou com calma, mas logo passou as mãos em volta do meu pescoço e me beijou com tanta vontade que eu me lembrei de novo porque gostava tanto dessa garota: ela era muito intensa. Tanto quanto eu.
     E é claro que um beijo no meio da madrugada não ia parar ali... e eu podia ver o desejo nos seus olhos...
- Amor, preciso escrever. Sério.
     Ela me olhou como se quisesse me devorar. Talvez quisesse mesmo, não sei. Mas soltou um suspiro de frustração e se deitou de novo ao meu lado, enquanto eu voltava minha atenção para as palavras que estava escrevendo.
     Mas ela não ia desistir enquanto não conseguisse a atenção que queria. E eu percebi isso quando senti ela levantar minha blusa para beijar minhas costas, meus braços... e ela sorria cada vez que eu me retorcia e me arrepiava.


     Sua boca me causava inúmeras sensações: arrepios, medo, e a certeza de que era com ela que eu queria ficar. Minhas dúvidas foram embora quando senti ela serpenteando por minhas pernas, como quem queria explorar cada centímetro do meu corpo.
     Eu ainda tentei digitar mais algumas palavras, mas a cada segundo isso se tornava mais difícil. Pensar coerentemente se tornava praticamente impossível com ela ali, tão ocupada comigo, tão ocupada em sentir e me dar prazer.
- Queria que você ficasse comigo... – ela falou manhosa, e eu não pude resistir.
     Eu nunca conseguia resistir a ela. Então apenas abaixei a tampa do notebook e o coloquei no chão, sem me preocupar se podia perder tudo o que já tinha escrito até ali. NAQUELE MOMENTO, E EM TODOS OS OUTROS QUE PASSEI AO LADO DELA, EU NÃO ME PREOCUPEI COM NADA.

O futuro não está escrito.

As lembranças vieram e eu sorri com elas.

Achei que queria ficar sozinha. Mas então uma imagem me veio à cabeça e eu percebi que o que eu realmente queria era ter você, pois já sentia sua falta. E, assim como meu orgulho, tudo ao meu redor pareceu confuso e contraditório. Mantive-me distraída, mas as lembranças vieram e eu não pude deixar de sorrir com elas.Você também tinha suas contradições, e mesmo que dissesse que gostava de mim e que era comigo que queria ficar, eu sentia que precisava me preparar para um Adeus. Eu nunca fui muito romântica, mas também nunca fui muito centrada. Acredito que devemos nos arriscar, permitir que a vida nos surpreenda, permitir que o sorriso do outro preencha nossos pensamentos sem sentir medo por isso. Não tenho medo de não ter você. Mas, enquanto posso, te quero ao meu lado. Quero voar pra então poder cair. Quero sua presença, seu sorriso, seu carinho... Novamente as lembranças vieram, e eu sorri com elas. Não posso evitar sorrir quando penso em você.
Uma xícara de café, um gosto esquisito na boca, e a sensação de não estar completamente acordada. Tenho a impressão de que meu dia não acaba nunca. Ouço alguma música, espero, mexo no celular, procuro algo pra ler. As horas se arrastam e eu tinha certeza de que hoje ainda era sábado. A xícara com café de ontem ainda esta do lado da cama, fria, ao lado de outras xícaras vazias. Minha agenda está aberta: hoje já é segunda. Onde eu estava que não vi passar o domingo? Faz pouco tempo que vi o céu claro, e agora só vejo silêncio. Nada pra fazer e ninguém pra conversar. E eu tenho a impressão de que meu dia não acaba nunca, mesmo tendo a sensação de não estar completamente acordada. Só queria fechar os olhos e conseguir dormir.

Tudo parece possível.

"Não podemos voltar. Por isso é tão difícil escolher: porque temos que fazer a escolha certa. Mas, enquanto você não escolhe, tudo parece possível" (Mr. Nobody).
Sim ou não? ..Eu não sei. É difícil escolher, e eu não sou objetiva. Acho que tenho medo, não sei. Eu sempre me perco; misturo passado, presente e futuro. Tenho medo do futuro ser só saudade, ou solidão. Mas não quero viver de passado. Quero o presente. Como um presente que eu ganho todos os dias, pra rasgar o pacote e ter uma nova surpresa.
O que eu quero? Eu não sei. É difícil escolher. Tenho medo, e não tenho pressa. Tenho tanta coisa pra VIVER e coisas ainda maiores para SENTIR. Não sei. Mas eu sempre me arrisco. Quero tanto... quero tudo!
Quero paixão. Mas sinto medo porque sei que um dia vai doer. TUDO dói. E no fim você ri e descobre que foi a melhor coisa do mundo.
Real Time Web Analytics